sexta-feira, 4 de novembro de 2022

“Vou torcer contra o Brasil na Copa” — Por Paulinho Coelho


 Tenho ouvido isso nos últimos quatro anos pelos mais variados motivos. Alguns que acham o Tite petista, ou o Neymar Bolsonarista, a CBF corrupta, os jogadores sem identificação com o país porque vivem na Europa, falta de amor à camisa… As justificativas são muitas.

Desde a eleição de 30/10 tem gente que não vai torcer pro Brasil porque o povo elegeu Lula, outros não vão torcer porque os caminhoneiros resolveram fazer manifestações golpistas. Mas afinal, quem a seleção brasileira de futebol masculino representa?

Deixa eu adivinhar, soou estranho “seleção brasileira de futebol masculino”, não é? Mas é isso, só isso. Um time formado por jogadores brasileiros disputando um campeonato mundial. Dias atrás as seleções masculina e feminina de vôlei disputaram seus respectivos campeonatos mundiais. Pouco antes houve mundial de basquete masculino no Brasil, no Recife.

O que diferencia a seleção brasileira de futebol de todo o resto é que ela é uma marca registrada do Brasil. É um time com os melhores jogadores do mundo, porque, por algum motivo, nós somos a maior potência no esporte mais popular do mundo. A seleção brasileira é mais conhecida que qualquer outro aspecto do nosso país. Mais que o samba, mas que o Cristo Redentor, a Garota de Ipanema, o Lula ou o Bolsonaro. A nossa seleção não pertence à CBF, embora a entidade livre com ela. Nossa seleção não pertence aos militares, apesar desses a terem usado em 1970.

A nossa seleção é nossa, de todos os brasileiros, de todas as brasileiras, é um time formado por meninos pobres, dos rincões do Nordeste, das periferias do Sudeste, dos galegos da serra gaúcha, dos pretos da Bahia, dos índios do Norte. A seleção pertence a mim, que sonhei em ser jogador, pertence a quem não liga e nem entende de futebol, mas gosta de reunir a família de quatro em quatro anos pra vestir verde amarelo e celebrar.

Não há outro lugar no planeta em que as pessoas são dispensadas do trabalho pra assistir sua seleção, que as escolas fechem. Para nós isso parece normal, em lugar nenhum no mundo o é. Para ser justo, talvez na Argentina seja, mas a gente é historicamente mais feliz nas Copas que eles.

O Brasil ganhou um mundial numa ditadura, ganhou quatro na democracia. Ganhou com Pelé, Garrincha, Carlos Alberto Torres, Romário, Ronaldo, Ronaldinho, Rivaldo, Taffarel. Geisel não ganhou Copa, nem Juscelino Kubitschek, tampouco Itamar Franco ou FHC. Quando Vampeta deu uma cambalhota na rampa, não foi por Fernando Henrique, foi por Nazaré das Farinhas.

Daqui alguns dias começa a Copa do Mundo. Não precisamos dizer que é a Copa do Mundo FIFA de futebol masculino, para nós é só Copa. Bem como não precisamos dizer que é a seleção brasileira de futebol masculino, para nós é só A SELEÇÃO. Na verdade, o mundo inteiro sabe que somos nós, a seleção.

Há brasileiros e brasileiras que não gostam do Brasil. Não gostam de samba, de bossa nova, de Machado de Assis, de cordel, fandango, cachaça, chimarrão, ténéré, queijo de coalho, feijoada, tem gente que não gosta de gente preta, gente parda, gente indígena. Tem gente que não gosta de paçoca, de rapadura, de caipirinha, coxinha, brigadeiro, que não gosta do Jô, do Silvio Santos e do Faustão.

Tem gente que não gosta de democracia. Tem gente que não gosta de pobre.

Mas o futebol nos pertence, a todos e todas nós. Não vamos deixar que toda a insanidade que pairou no Brasil nos últimos anos nos tire o futebol, nos tire a seleção.

Isso tudo vai passar. A estrela na camisa fica. A estrela na camisa pertence ao Brasil, os brasileiros e brasileiras.

Por Paulinho Coelho

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